555 Contra o Mau-Olhado

David Zumerkorn

18/06/2025 - 18:51

555 Contra o Mau-olhado

Se você já saiu na rua com roupa nova e ouviu um “uau, como você tá chique hoje!” — e no segundo seguinte tropeçou na calçada, perdeu a dignidade e quase o sapato — bem-vindo ao mundo das vítimas do ayin hará, o famoso mau-olhado em hebraico.

Mas será que isso é realmente “coisa de tia do interior”, ou o judaísmo leva essa história a sério? Acredite, leva. E muito.

Refere-se a uma energia negativainveja, cobiça, julgamento — que alguém emite ao olhar para outra pessoa ou algo dela com sentimentos impuros, ou até inconscientes.

Curiosamente, no Talmude (Bava Metsia 107b) encontramos um trecho impactante:

“(O rabino) Rav foi a um cemitério e fez um encantamento para descobrir a causa da morte daqueles ali enterrados, e disse: Noventa e nove deles morreram de mau-olhado, e somente um morreu por meios inteiramente naturais.”. Sua conclusão é simbólica e alarmante. O texto não deve ser lido literalmente, mas sim como um alerta sobre o poder da negatividade emocional e espiritual não resolvida no convívio humano.

Ok, calma, fique tranquilo. Não é para sair de capacete anti-mau-olhado por aí. Mas sim: o conceito é antigo, profundo e bastante disseminado na tradição judaica.

O  Rabeinu  Yona  (Avot  2:11)  esclareceu:: Aquele que não  encontra  alegria  em  sua  própria  parte  e  se  compara  com  alguém  mais  abastado  – “Quando  terei  riqueza  imensa  como ele?”–  prejudica  tanto  a si  quanto  ao  outro.  Como  afirmam  os  estudiosos  da  natureza  –    Esse  tipo  de  pensamento  gera  uma  energia  negativa  que  consome  tudo  o  que  ele  imaginou  com  seu  ayin  hará.  Isso  também  queima  dentro  dele,  pois  está  almejando  algo  que  não  está  ao  seu  alcance.  Tal  pensamento  pode  causar  danos  ao  seu  corpo,  por  restringir  sua  vitalidade  e  o  afasta  do  mundo.  Esse  é  o  conceito  de  ayin  hara.

A crença no mau-olhado é encontrada em todas as culturas antigas que entraram em contato com o judaísmo… No judaísmo rabínico antigo e medieval, o mau-olhado era percebido como uma ocorrência da vida cotidiana, parte da realidade com a qual os rabinos tinham que lidar à sua própria maneira de entender e interpretar. Esta é a razão pela qual ele é prevalente nos textos rabínicos. Através do uso do mau-olhado, é explicado, do ponto de vista da “magia”, o meio que se acredita ser eficaz para a proteção e cura após os métodos frequentemente religiosos. 

Em termos simples, o mau-olhado é a crença ou ideia de que alguém pode ser enfeitiçado, amaldiçoado ou ferido ao receber um olhar maligno. Esse olhar pode ser intencional ou não intencional, bem como causado por inveja, ganância, ciúme, etc.

O judaísmo reconhece que nem todo mundo tem olhos generosos. Por isso, os sábios recomendam modéstia e discrição, especialmente ao exibir bênçãos — seja sua sabedoria, riqueza, filhos ou até uma vaga na sombra no shopping.

Por isso, a Torá diz, por exemplo, que devemos contar nossos filhos, rebanhos ou sucessos com a devida cautela. Contar e ostentar pode atrair inveja — e aí já viu.

Poderíamos perguntar: Mas é só superstição? Ou tem lógica?

Tem lógica, sim. Do ponto de vista psicológico, o ayin hará também pode ser visto como o peso do julgamento social. Ser alvo da inveja e do desejo alheio pode gerar insegurança, comparação, medo de perder. É como se a alma sentisse que tem gente secando.

E do ponto de vista espiritual, o mau-olhado cria uma espécie de “rachadura energética”, por onde entra negatividade. A cabalá ensina que, quando alguém nos olha com inveja, ele ativa forças negativas no mundo superior que podem, de fato, alterar o fluxo natural da nossa proteção espiritual.

A forma como o mau-olhado funciona varia conforme a tradição, muitas vezes se contradizendo diretamente.

Na Torá oral encontramos o assunto em distintos lugares, tais como: nos tratados Talmúdicos: Shabat 34a, Bava Batra 75a, Sanhedrin 93a, entre outros.

Como se proteger?

Felizmente, o judaísmo não nos deixa sem opções. Algumas defesas tradicionais incluem:

Dizer “bli ayin hará” em hebraico, ou “Keyn eyn horeh” em Yidish (sem mau-olhado) após elogiar ou receber algum elogio.

Recitar salmos, especialmente o Tehilim (Salmo) 121.

Usar em casa ou no carro símbolos como a hamsá (mão de Miriam) — que, sim, não é só item de decoração da sogra.

Evitar ostentação gratuita. Postar aquela viagem dos sonhos com 23 fotos de Paris, comendo em um restaurante sofisticado (kasher, é lógico), pode não ser a ideia mais segura, espiritualmente falando.

E claro: rezar pela humildade e pela proteção Divina. Afinal, quem anda com o Altíssimo, anda com o melhor guarda-costas.

Em um mundo onde tanto mal existe, as pessoas buscam preveni-lo e remediá-lo quando se deparam com tal opção.

Popularmente, a recitação de Tehilim (Salmos) é considerada como uma medida extra de proteção contra o mau-olhado e atividades demoníacas.

Uma recitação particularmente popular contra o mau-olhado é a seguinte: (Números 21:17-20):

17 Então Israel cantou este cântico: “Sobe, ó, poço, canta para ele!
18 Um poço cavado por príncipes, escavado pelos nobres do povo, pelo legislador com seus cajados, e do deserto, uma dádiva.
20 Desde as alturas até o vale no campo de Moabe, no topo do pico, que domina o deserto.”

Embora os versículos citados acima não sejam uma fonte clássica específica contra o mau-olhado, há tradições cabalísticas que utilizam cânticos de louvor e trechos poéticos da Torá como forma de conectar-se à proteção Divina. O uso desses versículos como cântico simbólico reflete a ideia de transformar a palavra em escudo — princípio recorrente na espiritualidade judaica.

Além disso, a Bênção Sacerdotal (Números 6:24-26) também é eficaz.

“O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.”

O Hamsá, particularmente aquele com a imagem de um olho no centro, é um símbolo particularmente eficaz.

Você já reparou quantos dedos tem o famoso Hamsá, também conhecida como Mão de Míriam? Sim, exatamente 5. Agora, imagine essa mão repetida três vezes,: 555.

Na guimátria, o número 5 é representado pela letra ה (Hei) — letra que aparece duas vezes no mais elevado Nome de D-us (Yud-Hei-Vav-Hei), e que representa o passado, presente e futuro.

Agora imagine três vezes essa proteção:

O primeiro 5 = proteção espiritual (alma)

O segundo 5 = proteção emocional (coração)

O terceiro 5 = proteção física (corpo)

Então, 555 representa a mão Divina estendida três vezes sobre a pessoa.
Como se D-us dissesse:

“Estou com você por dentro, por fora e por todos os lados e antes, presentemente e depois. Agora pode sair de casa tranquilo — mas sem postar que está indo para a  praia, de Ferrari, tá bom!”

A palavra העין  (“haAyin” – o olho), que representa justamente o agente do mau-olhado, tem valor de guimátria exatamente 135.

Sabemos que:

מִרְיָם (Míriam) = 40 + 200 + 10 + 40 = 290

העין (o olho) = 5 + 70 + 10 + 50 = 135 → 290 + 135 = 425

Mas nosso número de “proteção” é 555.

Faltam 130 para completar essa barreira espiritual.

E veja só:

A palavra סיני (Sinai) — o lugar onde recebemos a Torá, fonte máxima da luz e da proteção Divina — também vale 130.

Míriam (fé – 290) + haayin (o olho – 135) + Sinai (a Torá – 130) = 555.

Ou seja, a força da profetisa (irmã de Aarão e Moisés), somada ao olhar (que pode ser destrutivo ou atento), é neutralizada e equilibrada pela luz da revelação no Sinai — o ponto máximo da conexão entre o Céu e a Terra.

Outra curiosidade com o número 555 é que é a guimátria da frase em hebraico:

Kessef VeZachav LeHaShem  כסף וזהב להשם (Prata e ouro para o Nome “D-us” / 20 + 60 + 80 + 6 + 7 + 5 + 2 + 30 + 5 + 300 + 40), isto é, quando dedicamos parte do nosso trabalho a ajudar outras pessoas menos privilegiadas (Tsedaká), é uma grande proteção contra qualquer coisa, inclusive mau-olhado.

Por fim, a palavra שמירה “shmirá” (proteção), também tem valor numérico de 555

(300 + 40 + 10 + 200 + 5), justificando ainda mais o citado número.

 Além do Hamsá, temos os peixes, já que “como os peixes não têm pálpebras e, portanto, seus olhos nunca fecham, eles sempre podem afastar o mau-olhado; além disso, seus olhos estão localizados em ambos os lados da cabeça, para poderem ver tudo e estar sempre vigilantes contra o mal”.

As ações comuns contra o mau-olhado incluem, mas não estão apenas limitadas, a certos costumes como:

Quebre vidro ou cerâmica na cerimônia de um casamento. Nunca mencione uma data de nascimento ou idade exata. Ao levar seu filho à escola pela primeira vez, proteja-o com sua capa ou casaco. Adicione ou comece uma declaração de elogio com a frase “sem mau-olhado ” ou versões equivalentes em outros idiomas. Fazer três pequenos movimentos com os lábios, como se fossem cuspidinhas (“fazendo o som” de pu-pu-pu), tira o mau-olhado, além de beliscar levemente os lóbulos das orelhas, entre outras.

Ao dizer algo negativo, comece com chas veshalom ou chas vechalila, ambas com significado “D-us nos livre” – também usado como resposta ao ouvir algo negativo.

Evite usar constantemente o termo “mau-olhado”, mas sim, o lado positivo, “olho” ou “bom-olhado”

Amarre um fio vermelho no pescoço ou no pulso de um recém-nascido. Na tradição judaica, especialmente entre os místicos da Cabalá, o fio vermelho (geralmente de lã) tem um papel simbólico de proteger contra o mau-olhado. O vermelho serve como barreira energética contra inveja e julgamento.

Em resumo, o mau-olhado não é só uma crença popular de avó com olho clínico. É uma realidade espiritual e social levada a sério pela tradição judaica. Mas isso não é motivo para viver em paranoia — e sim para buscar equilíbrio: entre gratidão e humildade, entre celebrar e proteger.

Então, da próxima vez que for exibir algo incrível, não esqueça: um Baruch Hashem (bendito seja D-us), uma piscadinha discreta e — se estiver muito inspirado — um par de óculos escuros para devolver o olhar com classe.

Mas calma, não precisa sair borrifando água benta pela casa (isso é da concorrência). Basta um pouco de recato, umas bençãos bem-feitas, um hamsá pendurado na entrada — e talvez um olhar de volta que diga:

“Quer secar? Vai secar roupa em outro lugar, porque aqui nós temos mezuzá nas portas!”

No fim, o verdadeiro escudo contra o mau-olhado é viver com leveza, alegria e fé, afinal, quem confia em D-us não teme a nada!


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